quarta-feira, 11 de maio de 2022

 

Boas Práticas de Segurança na Distribuição e Transporte – BPSDT:

 evolução no transporte de medicamentos

por Jair Calixto*

Introdução

As Boas Práticas de Distribuição de medicamentos estão evoluindo para a adoção das questões relacionadas à segurança no transporte. Já está sendo utilizado um novo termo, que engloba não somente as Boas Práticas de Distribuição, mas as Boas Práticas de Segurança na Distribuição e Transporte – BPSDT. Na Europa e Estados Unidos encontramos empresas de logística que utilizam diversos mecanismos para proteger a carga contra as mais diferentes situações de risco ao produto, de maneira a manter sua integridade e garantir sua eficácia e segurança para o paciente. 

O modelo atual

A distribuição de medicamentos em um país continental tem diversas nuances e, notadamente no Brasil, a situação é bastante variável, conforme caminhamos de uma região para outra. A região sul/sudeste, provida de melhor infraestrutura, aparentemente possui melhor controle sobre a qualidade do produto, diversamente de outras regiões do país, onde a infraestrutura é um fator de risco para o produto. Apesar de as regiões sul/sudeste possuírem melhores condições, ainda verificamos dificuldades nos processos de distribuição de medicamentos, principalmente naquelas condições relacionadas à segurança do produto durante o transporte.

Assim, o transporte de medicamentos é realizado sob as condições atuais, utilizando o transporte por caminhões nas estradas atuais (na maioria das vezes) e com os modelos de segurança usuais. Note-se que não temos a multimodalidade praticada com bastante vigor. Ainda é tímido o seu uso.

A necessidade estrutural   

A segurança à qual mencionamos anteriormente, refere-se a várias situações, combinadas ou isoladas, dentre as quais destacam-se:

# a segurança das estradas, tanto na infraestrutura básica oferecida (parte física), como na vigilância e patrulhamento policiais;

# modal único. Temos urgente necessidade de estimular outros modais, integrando-os;

# dimensões territoriais do país;

# capacitação dos profissionais;

# mais investimento em tecnologias para controle da carga.

# mais investimentos em tecnologias para rastreamento do veículo.  

#  determinação de estrutura/pontos de interligação logística das cargas.

Para a maioria das atividades ilícitas ou ilegais, a solução primária e imediata, atuando na raiz do problema, é o combate ao crime, via fiscalização e atuação policial.

Mas não é o que ocorre na prática, por diversos motivos. Entre eles a falta de aparelhamento das polícias, a ausência de tecnologias específicas para combate ao crime, a falta de recursos, materiais e humanos, entre outros.   Trata-se de um problema envolvendo os setores econômico e social, e que demanda ações conjuntas do poder público e da iniciativa privada.

Assim, é importante conhecer as tecnologias apropriadas existentes e suas diversas aplicações, para possibilitar um controle efetivo sobre os produtos transportados, minimizando as ocorrências. Entre as muitas soluções disponíveis atualmente, podemos relacionar diversos mecanismos capazes de atuar em diversas fases do processo. A aplicação de um sistema de captura, armazenamento e transmissão eletrônica de dados, baseada no uso da tecnologia favorece a identificação e detecção de produtos oriundos do roubo de carga.

Neste sentido, há que se buscar mecanismos e políticas para inserir estes novos conceitos na rotina das empresas que operam no setor. Principalmente porque, neste momento atual, a perspectiva de crescimento dos produtos biotecnológicos é elevada e este fato, por si só, traz muita preocupação imediata com a manutenção da qualidade destes produtos. Tais produtos devem ser mantidos em temperaturas muito baixas ( 2 a 8ºC, -20ºC), fazendo com que toda a estrutura externa de suporte (armazenagem, distribuição e transporte) esteja adequada a estas condições específicas. O impacto imediato disto será a necessidade de os veículos de transporte terrestre, aéreo, fluvial, ferroviário e naval serem refrigerados ou proporcionarem estrutura para tal, os pontos de embarque e desembarque da carga possuírem condições adequadas para recebimento e manuseio da carga, sob estas condições de temperatura, bem como toda a estrutura de armazenagem operando sob estas condições. 

 

As tecnologias disponíveis

Diversas tecnologias já estão disponíveis no mercado e estão a serviço da melhoria das condições do transporte e armazenagem de medicamentos e já vêm colaborando com as empresas.

O uso de rastreadores de veículos já é executado no exterior e no Brasil, se bem que ainda necessita de um volume maior no Brasil. Rastreadores por GPS possibilitam o controle do trajeto do veículo durante seu percurso, sendo monitorados remotamente e registrando todas as movimentações e eventuais mudanças de rotas.

A inclusão de sensores de portas, que enviam um sinal a um controlador com acesso à internet, instalado na cabine do caminhão, permite saber quando as portas do veículo foram abertas e por quanto tempo ficaram nestas condições.

Sensores de temperatura nas cargas, muito usados em veículos não refrigerados, permitem conhecer o perfil da temperatura durante as etapas de armazenagem, transporte e manuseio, registrando eventuais excursões e possibilitando descarregar estas informações off-line em um computador, ao final do trajeto. Sensores com acompanhamento on-line da temperatura interna do baú caminhão, durante o trajeto, estão disponíveis e possibilitam o registro das temperaturas da carga remotamente, extraindo dados e checando a possibilidade de tendência de ocorrência de excursões.

Veículos refrigerados, devidamente qualificados, para transportar as cargas refrigeradas são exigências, já cumpridas atualmente por parte dos transportadores, que se farão necessárias nos próximos 10 anos, devida ao aumento da demanda.

 A inclusão de mecanismos eletrônicos nas embalagens, ajudam no rastreamento dos medicamentos, individualmente, contribuindo para diminuição do roubo de carga, redução da entrada de produtos oriundos de contrabandos, de descaminho, de produtos falsificados ou adulterados e aumentando a garantia da origem segura dos mesmos.

Assim, em um modelo ideal, o veículo trafegaria sob um sistema de controle por posicionamento, detectando as paradas programadas e as não programadas, informando as aberturas de portas e registrando as variações de temperatura, umidade, impactos e vibrações da carga.

 

Conclusões

A integração de sensores de portas, sensores de temperatura, de vibração e geoposicionamento por GPS, colaboram com a manutenção da integridade, qualidade, segurança e autenticidade do medicamento.

Algum sistema eletrônico incluso nas embalagens (QRCode ou Código Bi-dimensional) pode se tornar um elemento de alta confiabilidade no trânsito de mercadorias, auxiliando no controle do estoque e no caminho traçado por elas durante seu percurso pela cadeia logística.

Com o uso destas ferramentas é provável que haja considerável contribuição para reduzir roubos, falsificações, desvios, fraudes, descaminhos e contrabandos dos produtos durante a distribuição e comercialização dos medicamentos, além de maior segurança e controle sobre a qualidade.



Referências bibliográficas

(ALMEIDA, 2010) Incorporação de novas tecnologias de informação em um sistema de distribuição de medicamentos: avaliação quanto ao aumento da segurança dos pacientes. Silvia Helena Oliveira de Almeida. Porto Alegre – UFRGS, 2010, 129p.Dissertação (mestrado profissional). UFRGS. Faculdade de farmácia. Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas.

(FERNANDEZ, 2012) Marcelo Luis Alves Fernandez. Escola Politécnica. 10/08/2012. São Paulo, 2012. Avaliação da utilização de documentos fiscais eletrônicos na rastreabilidade de cargas.

 (CARVALHO, 2005) Carvalho, ARILSON Coelho - O impacto negativo da pirataria no cenário mercadológico e as dificuldades no combate à falsificação. Revista do IBRAC, p.47-84. 2005.

 (AMES, SOUZA, 2012).   Falsificação de medicamentos no Brasil. Joseane Ames e Daniele Zago Souza. Rev Saúde Pública 2012;46(1):154-9 Faculdade de Farmácia. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil. Programa de Pós-Graduação em Química. Instituto de Química. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. III Setor Técnico-Científico. Superintendência no Estado do Rio Grande do Sul. Departamento de Polícia Federal. Porto Alegre, RS, Brasil.

(PORTUGAL, 2009)  Portugal, Brina; Paulino, M.A. Falsificação de Medicamentos e Vigilância Sanitária. Pontífice Universidade Católica de Goiás. Instituto de Estudos Farmacêuticos. Goiás, Brasil. 2009

 

 

*Jair Calixto é farmacêutico e consultor, tendo vivência de 50 anos na área farmacêutica.

 e-mail: jaircalixto@uol.com.br 

 

 


 


 

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